Viveu toda sua longa vida em Oeiras, por ele muito amada, prestando relevantes serviços à comunidade. Era um homem simples e sereno. Autodidata, professor, advogado provisionado, exerceu a atividade por mais de 60 anos, atuando na primeira capital e municípios circunvizinhos.
Disse, na comemoração da centúria do seu nascimento que “ser homem é fácil; difícil é agir como homem”. Quem conviveu com ele é testemunha de que, durante toda sua existência agiu como homem, deixando no seu caminho rastros luminosos. Fez, da busca do saber, o seu encanto, certo de que a nossa vida interior intelectual exige uma ocupação qualquer pela ação e pelo pensamento
Para tornar-se um pedaço da alma de cada amigo, demonstrava grande prazer em ajudar a quem dele necessitasse. Era discípulo de São Paulo, o Apóstolo, sempre disposto a servir e tinha a lealdade como companheira inseparável.
Pai amorável, gostava de predicar lições, dando, ele mesmo, exemplo de retidão de caráter. Fazia questão de demonstrar a arraigada convicção, tão identificadora de sua personalidade, de que não há legado mais rico que a honestidade, ao tempo em que pregava, incansavelmente, que a honra não se defende com a espada nem com o broquel, mas com vida íntegra e irrepreensível.
Mas, foi no exercício da profissão por ele eleita que deixou, indelével, a marca de sua longa existência. Na faina diária Hipólito Reis demonstrava inexcedível prazer ao exercitar o múnus público da mais refulgente profissão, a advocacia, vivida intensamente, sob autêntico e desvanecedor fascínio. Foi, verdadeiramente, o “advocatu”, aquele que, chamado, estava sempre disponível para ajudar, oferecendo ombro amigo.
Seu Hipólito fez da Advocacia um ato de cidadania. A profissão foi sua razão de ser. Muito aprendeu e muito ensinou sobretudo a jovens advogados que dele se aproximavam para aconselhamento. Nasceu para ser advogado. Amou a profissão e julgava-a a melhor do mundo. Fez dela a espinha dorsal de sua vida. Exercitou-a respeitando as regras éticas, sabendo que sem ética não há direito, nem justiça, nem valores. Sacrificou comodidade, enfrentou distâncias, não temeu as incompreensões, tudo para defender os que necessitavam de justiça.
Foram quase sessenta anos ininterruptos de advocacia. Longa vida de serviço em defesa do Direito. Era despojado. Não foram poucas as vezes que, entre lágrimas, clientes sem recursos financeiros lhe diziam: “Deus lhe pague”. Nunca buscou a glória, o poder ou a riqueza. Seu objetivo foi, sempre, como advogado, a defesa do direito.
Nas relações com juízes e advogados, era respeitoso e cordial. Tinha verdadeira paixão pelo júri. Encantava-se com o espetáculo de cidadania protagonizado por homens do povo feitos juízes. Apaixonava-se pelas causas, sobretudo daqueles privados da liberdade, protegendo-os, buscando a justiça nos quartéis, delegacias e prisões. Valia qualquer sacrifício. Frágil na estatura, nada o intimidava, consciente do dever de lutar pelo direito de seu cliente, por ser o único sustentáculo de seus direitos legais.
“Seu Hipólito” foi exemplo de vida, mostrou para os seus pósteros que a cidadania se conquista através da convivência fraterna e solidária, do respeito à decência, à honradez e à probidade.
Por Moises Reis.
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